Os concursos públicos para jornalistas ainda existem. Anualmente, há cerca de 30 a 40 editais para contratação de profissionais de Comunicação Social. Desde 2019, as oportunidades mais abundantes estão na esfera municipal, mas os melhores salários costumam aparecer em oportunidades isoladas.
O professor Aldo Schmitz, do Iscom, de Santa Catarina, passou dez anos estudando esse mercado. No ano passado, ele analisou 250 concursos no Brasil no período de 2010 a 2018. Selecionou os 220 que têm remuneração superior a três salários mínimos. E, assim, mapeou onde estão as oportunidades, quanto pagam, qual o grau de dificuldade das provas, qual a relação candidato por vaga, quanto tempo se leva para conseguir entrar e assim por diante.
As conclusões estão num ebook gratuito disponível em seu site. Conversamos com ele no Podcast-se, o podcast do Comunique-se. Você pode ouvir a conversa — ou ler a transcrição mais abaixo. Falamos do panorama dos concursos no Brasil hoje.
Em tempo: se quiser se aprofundar mais no tema, Aldo tem um curso, além de liderar grupos no Facebook e no WhatsApp. Como ponto de partida, vale a pena acompanhar a entrevista a seguir.
Cassio Politi: Neste momento de vacas magras e crise na comunicação, concursos são uma saída para muita gente. A pergunta mais importante é se há concurso aberto. Dá para trabalhar para governo municipal, estadual ou federal em 2020?
Aldo Schmitz: Hoje os órgãos públicos têm admitido muito jornalista não pela via de concursos públicos mas como funcionário temporário. Apesar de já ter existido uma época com mais abundância, hoje ainda continua havendo concursos públicos.
Na área federal, o governo deu uma barrada, mas ainda continuam alguns concursos em universidades públicas, nas Forças Armadas, no Judiciário e no Legislativo. Em governo do estado, são muito raros os concursos. Há mais em Assembleias Legislativas e nos Tribunais de Justiça locais. Existem um pouco mais de oportunidades nas prefeituras e Câmaras Municipais.
Cassio Politi: Você mencionou que há menos concursos abertos do que costumava haver. A gente percebe que os governos federais anteriores, de Lula e Dilma, contratavam mais. Existia claramente uma política de ter um Estado maior. Já o governo Bolsonaro é o contrário. Você ouve o ministro Paulo Guedes e outros ministros falando bastante de enxugamento do Estado. Isso explica esse sumiço das vagas para jornalistas?
Aldo Schmitz: O jornalista é um cargo que raramente existia antes desses governos que você citou [Lula e Dilma]. Esses governos acabaram emitindo muitos editais para jornalistas, o que agora rareou. Na área do Governo Federal, realmente caiu bastante. Nas outras esferas, tanto Judiciário como Legislativo — estadual e municipal — têm sido bem maiores as ofertas.
Acontece que ão raros também aqueles concursos mais cobiçados, mais disputados. Por exemplo, saiu neste ano um concurso para a Câmara Legislativa do Distrito Federal com salário de R$ 17 mil reais. Havia três vagas apenas. Outro exemplo é uma prova recente para a Assembleia Legislativa do Amapá com salário de R$ 11 mil. Mas esses concursos ‘top’ são mais raros. A maioria não supera os R$ 3 mil. Alguns pagam R$ 1,5 mil ou R$ 2 mil, embora essas prefeituras e câmaras tenham muitas vezes uma política de bonificação e benefícios que os outros muitas vezes não têm.
Cassio Politi: Em resumo, poucos salários vão chegar aos cinco dígitos. É isso?
Aldo Schmitz: Sim. É bem raro passar dos cinco dígitos. Por exemplo, em universidades federais, o salário fica em torno de R$ 5,5 mil. Nas Forças Armadas, em torno de R$ 9 mil. Mas os outros ficam em faixas bem mais baixas.
Cassio Politi: Se uma pessoa for procurar hoje, ela vai encontrar quantos concursos abertos?
Aldo Schmitz: A média desde meados de 2019 tem sido de 12 concursos com a remuneração a partir de três salários mínimos. E há cerca de 20 concursos em andamento — contando também aqueles que já estão com as inscrições encerradas e que estão com aplicação das provas.
Em suma, pode-se calcular em torno de 30 a 40 editais por ano para concursos públicos na área da Comunicação Social.
Cassio Politi: Isso em âmbito nacional, certo? O que gera um problema: nem todo o mundo vai conseguir participar de todos esses concursos porque não vai estar disposto a sair do seu estado, não é?
Aldo Schmitz: Sim, muitas vezes o concurseiro tem um alto custo de deslocamento para fazer os bons concursos. Por exemplo, o concurso de R$ 11 mil do Amapá, atraiu pessoas do Sul e do Sudeste. Essas pessoas se dispuseram a ir até lá para disputar duas vagas. Tem custo de passagem aérea, alimentação e hospedagem, além do tempo investido em cursos preparatórios.
O concurseiro, em média, leva de três a quatro anos tentando até conseguir ficar entre os três primeiros colocados e ser aprovado em um concurso. Então, você não pode achar que vai fazer o primeiro concurso e passar. Pode até acontecer, mas normalmente requer muito estudo, muita dedicação, e também fazer vários concursos para ir pegando a manha das bancas.
Cassio Politi: Dá para saber quantas vagas existem por candidato?
Aldo Schmitz: Os mais concorridos dão uma média de 500 candidatos por vaga. Obviamente, aqueles concursos que pagam menos têm uma concorrência bem menor. Alguns jornalistas usam uma artimanha, que é ser aprovado em um concurso de nível técnico médio.
Por exemplo, eu sou um jornalista e faço um concurso de ensino médio lá na Assembleia Legislativa. Uma vez que eu estou lá dentro, sendo jornalista, trabalho um tempo e faço um lobby internamente para ser promovido e trabalhar na área de Comunicação. Muitas vezes, são salários até atrativos mesmo na área da administração, como assessor legislativo e outras coisas.
Cassio Politi: No caso do concurso para jornalista, que é o objeto da sua pesquisa, quais funções ele vai exercer? É sempre assessoria de imprensa ou varia? Ou a pesquisa engloba também professores?
Aldo Schmitz: A minha pesquisa engloba só a área da Comunicação Social. Quase 95% dos editais pedem profissionais formados em Jornalismo. Relações Públicas são em torno de 5%. E menos de 1% é publicitário. Mas eles pedem um cargo, por exemplo, jornalista, mas na prova fazem perguntas de Publicidade, de Relações Públicas e outras coisas. Ou seja, a prova nem sempre corresponde à atribuição nem ao cargo.